Comissão Europeia pode travar a compra da iRobot pela Amazon

Desde o verão do ano passado que se sabe que a Amazon tem intenções de comprar a famosa iRobot, uma empresa pioneira em aspiradores de pó com a sua linha Roomba, num valor a rondar os 1,7 biliões de dólares. O anúncio causou alvoroço porque a gigante procura novas ideias para atrair o público, nomeadamente ao nível da robotização do lazer.

A Amazon lançou em 2021 um robô companheiro, o Astro, que pretende prefigurar esses futuros autómatos domésticos capazes de acompanhar o nosso dia a dia, entreter-nos ou monitorizar a casa na nossa ausência.

Mas, para conseguir isso, o robô companheiro deve ter certa inteligência e capacidade de entender o seu ambiente para tomar as decisões apropriadas. E aí que nasce o interesse na aquisição da iRobot, já que com ela vem o seu sistema operativo, o iRobot OS, que é de particular interesse para a gigante do comércio eletrónico. Essa plataforma foi constantemente melhorada ao longo das gerações de aspiradores da iRobot, cuja gama se expandiu para outras categorias de produtos.

Esta plataforma, já ligada à assistente digital Alexa, poderá vir a tornar-se comum a todos os gadgets domésticos (câmaras, fechaduras e campainhas e portanto robot aspiradores ou mesmo robots acompanhantes, etc.) oferecidos pela Amazon para centralizar os desenvolvimentos e recuperar os dados pessoais associados de forma centralizada.

Mas a aquisição de tal empresa por um gigante da Internet não é trivial ou sem consequências potenciais na concorrência e deve ser validada pelas autoridades de concorrência. Porém, na Europa, a autoridade antitruste tem justamente preocupações com tal aquisição. A agência Reuters indica assim que deve proceder a uma investigação, enquanto as autoridades americanas, e coreanas, já deram a sua luz verde.

Uma das preocupações prende-se com o risco de ver a Amazon privilegiar os seus produtos no mercado de robôs aspiradores em detrimento dos (muitos, e muitos chineses) concorrentes neste mercado, com risco de práticas anticoncorrenciais.

Comissão Europeia anuncia investigação para a aquisição da iRobot pela Amazon

O outro ponto crítico diz respeito à recuperação e gestão de dados pessoais de equipamentos e como a Amazon pretende utiliza-los. A empresa poderia, assim, ter acesso ao mapeamento completo das casas dos utilizadores e associar a eles as suas ofertas e serviços. Há também o problema dos streams de vídeo das câmaras, e dos sensores dos robôs aspiradores. A empresa está ansiosa por esses dados, o que pode causar problemas com os regulamentos europeus e a estrutura do GDPR.

Segundo a Reuters, o braço antitruste da UE poderia, portanto, conduzir uma investigação de quatro meses, atrasando ainda mais esta aquisição. Nesse prazo, poderia exigir medidas corretivas em troca do seu sinal verde.

Por outro lado, a Amazon diz que a concorrência já é intensa no mercado de robôs a vácuo e que a aquisição da iRobot não mudará a forma como o mercado funciona. Contudo, isso não impede que os investidores estremeçam, tendo o preço da iRobot caído 10% face ao risco de ver a aquisição adiada, e/ou complicada por medidas restritivas.