
Desafio 10-Year-Challenge parece-lhe ser algo inofensivo, certo?
17 Janeiro, 2019Desafio 10-Year-Challenge, ou simplesmente o desafio dos 10 anos… algo que se tornou viral e uma tendência das mais variadas redes sociais nos últimos dias. A moda que pode ser vista quer no Facebook como no Instagram, leva as pessoas a publicarem selfies lado-a-lado, uma com a sua idade atual e outra de há dez anos. Algo que lhe parece ser inofensivo não é? Talvez seja altura de pensar um pouco e tentar perceber como isso surgiu e com que intenção…algo que provavelmente ainda não tinha feito.
Segundo alguns analistas, é estimado que mais de cinco milhões de interações com o Facebook foram feitas em apenas três dias, e alguns especialistas lembram as pessoas que quanto mais dados partilham, mais se tornaram num alvo. Quem me conhece sabe que não sou contra as redes sociais, apesar de achar que o seu uso deve ser muito ponderado, e acima de tudo consciente.
E como nada é feito ao acaso, o desafio 10-Year-Challenge também não parece ter fugido a essa regra. Pois segundo as ultimas informações, esse desafio está a ser usado para treinar alguns algoritmos de reconhecimento facial.
Como era de esperar, o Facebook, que também é dono do Instagram, divulgou um comunicado a afirmar que não teve qualquer papel em iniciar o desafio, e que não vê qualquer benefício no mesmo. Mas isso soa a conversa fiada.
The 10 year challenge is a user-generated meme that started on its own, without our involvement. It’s evidence of the fun people have on Facebook, and that’s it.
— Facebook (@facebook) 16 de janeiro de 2019
Imagine que queria treinar um algoritmo de reconhecimento facial com características relacionadas com a idade e, mais especificamente, na progressão da idade (por exemplo, como as pessoas tendem a ficar à medida que envelhecem). Idealmente, desejaria ter acesso a um conjunto de dados, amplo e rigoroso, com muitas fotos de pessoas. Ajudaria se soubesse que elas tivessem sido separadas por um número fixo de anos – digamos, 10 anos.
Claro, que qualquer pessoa poderia usar o Facebook para consultar as fotos de perfil e ver as datas de publicação ou dados EXIF. Mas todo esse conjunto de fotos de perfil pode acabar por gerar muito ruído inútil. As pessoas não fazem upload de imagens de forma confiável e por ordem cronológica, e não é incomum os utilizadores publicarem fotos de algo diferente de si, mesmo como uma foto de perfil. Um rápido olhar nas fotos de perfil dos meus amigos no Facebook, e facilmente vejo fotos de cães, de gatos, de motas, de bicicletas, de um amigo que morreu há pouco tempo, padrões abstratos e muito mais.
Por outras palavras, era muito mais fácil se fossem os próprios utilizadores a partilhar um conjunto simples, limpo e rotulado de fotos, atuais e de há 10 anos. E com uma simples brincadeira que aparenta ser inofensiva, as pessoas partilham o que é necessário, uma foto de hoje e uma de há 10 anos atrás.
Quanto às imagens falsas, os algoritmos de reconhecimento de imagem são bastante sofisticados o suficiente para identificar um rosto humano. Se fez o upload de uma imagem de um gato há 10 anos e agora – como um dos meus amigos fez – essa amostra em particular seria fácil de descartar pela plataforma de reconhecimento facial.
E mesmo que esta brincadeira em particular não seja uma obra do Facebook, certo é que os últimos anos foram repletos de exemplos de brincadeiras em que o objetivo final era a obtenção de dados pessoais. Basta pensar na extração de dados em massa de milhões de utilizadores do Facebook, realizada pela Cambridge Analytica.
É mau demais pensar que alguém possa usar as suas fotos do Facebook para treinar um algoritmo de reconhecimento facial? Não necessariamente, já que de certa forma, é algo inevitável… só não precisamos é de lhes facilitar a vida.

Joel Pinto
Fundador do Noticias e Tecnologia, e este foi o seu segundo projeto online, depois de vários anos ligado a um portal voltado para o sistema Android, onde também foi um dos seus fundadores.